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No compasso dos antepassados, com jefferson ursulino

  • Foto do escritor: Luiz Henrique B. Carvalho
    Luiz Henrique B. Carvalho
  • 30 de jul. de 2018
  • 3 min de leitura



Do que seriam nossos orixás não fosse a vibrante percussão dos ilús, tambores e atabaques que tremem as paredes do salão de qualquer terreiro? E por trás de cada batida, um corpo pulsante que move energia de dentro de si para as mãos, evocando energias ancestrais que, ao se materializarem em terra, primeiro saúdam as vibrações sagradas antes de qualquer patente.


E para homenageá-los, o portal BaraÔ resolveu criar um espaço para compartilhar as memórias e vivências dos homens que nos tapas ferozes em couro sagrado encontram o acalento da adoração de seus ancestrais.


No compasso dos antepassados ensaia sua estreia com um importante nome do Nagô Egba: o axogoum Jefferson Ursulino, que assim batizou esse conjunto de narrativas sobre os ogãs do candomblé, e com carinho será homenageado daqui em diante. Mãos que carregam as marcas de adoração ao orixá e um coração repleto de respeito por seu pai Xangô. Com essa essência, ele mantém sua paixão pelo candomblé há quinze anos, quando assentou seu orixá.



O axogum Jefferson Ursulino, tocando em obrigação no ilê a que pertence, no Recife.

"O ogã acredita naquilo que não sente. Ele sente um arrepio, uma emoção, a energia circulando, mas ele acredita sem sentir e sem ver"

“A gente não escolhe o caminho do orixá, é o orixá que nos escolhe. E quando você é escolhido, você se torna privilegiado”, ressalta o axogum, que andou por outras religiões antes de se encontrar no santo. No ato de sua iniciação, foi feito axogum da casa em que frequenta, no Recife.


Jefferson comenta que ogã é um termo vindo do jeje, que significa homem responsável por todos os setores. A função do ogã, dependendo da tradição, é subdividida, podendo haver vários cargos. “No Nagô, tudo se resume ao axogum”, explica o babá sobre sua própria nação. “Ele exerce todas as funções. Ele toca, ele canta, ele evoca. Ele está em todos os lugares do terreiro. Ele faz quase todas as funções, menos se manifestar. E talvez por isso sua fé seja maior até mesmo dos elégùn, aqueles que dão transe, porque o ogã acredita naquilo que não sente. Ele sente um arrepio, uma emoção, a energia circulando, mas ele acredita sem sentir e sem ver”, descreve Jefferson.


"Por mais que um galho seja forte e grosso, o que o sustenta são suas raízes"

O axogum explica que, em sua nação, independente do cargo, todos passam pelo mesmo processo de iniciação. “Na tradição Nagô, todos têm que se passar por todos os fundamentos. Só depois do processo é que se tem confirmação que aquele rapaz será axogum”, salienta o filho de Xangô.


Sobre o papel do ogã num toque, não há palavras que traduzam a emoção de estar ali. “É espetacular quando o orixá reverencia aquele ogã e o toque, mostrando que a sonoridade os trouxe em terra” relata Jefferson. “Sentir que o orixá está satisfeito com o que está escutando traz um conforto espiritual magnífico”, completa o devoto de Xangô.

“Musicalmente falando, é tudo uma grande orquestra. O som dos ilús junto com o coral, as tiradas, os outros instrumentos, tudo sincronizado, no tempo certo, dinâmico e harmônico. É como se você construísse uma casa aos poucos e então firmasse ela com êxito”, comenta o axogum. “O orixá vai nascendo, brotando, se transformando, até chegar na possessão do elégùn. Aí, o grande vulcão explode. Há a manifestação, e tudo aquilo que vínhamos construindo é concretizado”.





Jefferson ministra oficinas de cantigas tradicionais da sua nação como parte de um projeto social de acolhimento de crianças e jovens. Além disso, ele também realiza as mesmas oficinas em outros terreiros, como forma de conservar a tradição. “O conhecimento não virá conosco pra morte, por Òrun. O conhecimento tem que ficar na Terra, pra que se tenha mais êxito e qualidade no nosso culto”, destaca o axogum. Por ser uma religião transmitida oralmente, desprovida de um registro escrito oficial, o candomblé depende inteiramente da oralidade para repassar e construir conhecimento. “Fica a esperança de que essa tradição não vai morrer agora”.


O filho de Xangô comenta que, ao trabalhar nas oficinas, também está cultuando o ancestral. “Esses projetos fazem com que a gente se aproxima da nossa ancestralidade, porque estamos buscando e resgatando a nós mesmos para que as nossas raízes sejam fincadas. Por mais que um galho seja forte e grosso, o que o sustenta são suas raízes. Com a ancestralidade bem enraizada, ela pode até se abalar, mas jamais vai cair”, ressalta Jefferson.



O axogum Jefferson Ursulino tocando o ilú, instrumento sagrado da tradição Nagô Egba.

 
 
 

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